Artigo: Elegância e bom humor salvam vidas!

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A capacidade social de lidar com as situações cotidianas, sejam as que causam alegrias, estresses ou irritabilidades podem salvar vidas.

Afirmo isso por entender que a delicadeza e o bom humor são recursos de bem viver, e que quanto antes conseguirmos ter uma postura compreensiva, favoráveis repertórios de comunicação não violenta prevalecerão em nossas interações no meio.

Além disso, aprimoraremos nosso aparelho psíquico no sentir, pensar e agir como postula o psicólogo Carl Rogers, tendo tolerância e prudência diante das situações de felicidade, adversidades e frustrações.

Incluo como exemplo os aspectos positivos por considerar que a vigilância cotidiana “de se preocupar com o jardim do vizinho” torna a vida alheia propulsora de incômodos e comparações.

Por hora, venho destacar os pensamentos do artista Tony Ramos, que em sua biografia escrita pela jornalista Tania Carvalho, intitulada no Tempo da Delicadeza (2006) aponta que a elegância nas relações interpessoais é raridade em uma humanidade que vem sendo conduzida por ideais políticos, de sucesso e felicidade, tornando as relações descartáveis, competitivas e em constante aceleração, como propõe o sociólogo polonês Zygmunt Bauman e filósofo sul-coreano Byung-Chul Han ao descreverem sobre uma “modernidade liquida” e uma “sociedade do cansaço”, respectivamente.

O tempo, nas palavras de Ramos, vem perdendo a riqueza dos seus momentos e a relevância do dedicar-se ao encontro com os outros. Em suas entrevistas nos programas Persona em Foco (2016) e Lady Light (2022), ele afirma que falta nas pessoas é a elegância da alma, é o respeito “em um por favor, muito obrigado, que bom te reencontrar, queria me desculpar, gosto muito de você, que bom te rever, que bom viver…”

Caro leitor, convido-o a refletir se a intolerância com o outro e acontecimentos do cotidiano não se traduz em uma dificuldade de lidar consigo, pergunto, pois é crescente os discursos, seja no atendimento clínico que realizo ou nos diálogos cotidianos que relatam fadiga mental devido nas relações no ambiente de trabalho e nos relacionamentos amorosos e no lar, ou quando os fazem pela necessidade o desgaste aumenta o sofrer, por se sentirem culpados e impotentes.

Há, claro, aqueles desinteressados e pouco empáticos que usam palavras sem ter cuidado com o outro, ofendem de forma desmedida, parecendo ter traços sádicos ao sentirem prazer em destratar quem não compartilha o seu viés de confirmação. É comum em uma relação de poder, como no ambiente laborativo, a grosseria dar lugar a uma postura conveniente e dissimulada, que afirmo não evitar amargura, enquanto ato de reclamar e manifestar insatisfação constante, acumulando rancor e tristeza.

A canção, Todo Sentimento, de Chico Buarque retrata acerca de uma retomada do que é suficiente, para manter uma energia vital, que propicie que nos ajustarmos a um ‘tempo da delicadeza’, um instante de sensatez onde o passado e futuro não importam mais do que o agora, em que encontro seu com o outro remetem um todo sentimento de completude.

Logo como estamos tão automatizados a priorizar contato superficiais e descartáveis, é possível que pecamos na compreensão de que frente ao espelho, não precisamos nos encarar ou cumprimentar, é como se estivéssemos ali apenas acrescentando mais uma camada na maquiagem ou barbeando os pelos que conflitam com o ideal de aparência. Entretendo, é possível que sejamos surpreendidos, se abandonarmos a postura de animosidade, e adotarmos a disponibilidade de sermos elegantes e educados ao compartilhar instantes de ludicidade.

O educador e filósofo Paulo Freire, ao falar da importância da ludicidade, contribui com o tema enquanto metodologia que ampliemos o sentido de cada oportunidade de interação, onde a nossa imaginação crie estratégias e repertórios consistentes que alimente e tempere a alma com virtudes que estão em extinção, como aduz Tony Ramos.

Por fim, creio que devemos cultivar a cordialidade, tecendo elogios e piadas saudáveis, que conquistem sorrisos e a retribuição caridosa que nos propicie o adaptar à realidade, criando uma cultura em que cada um seja capaz de ajudar a si, assim como aprenda a pedir ajuda e ofereça apoio emocional ao outro, e assim, assumindo sua parcela de responsabilidade em cooperar com o bem estar de todos os dias.

Artigo de Ruy Ribeiro Moraes Cruz (Psicólogo CRP 22-00582, Advogado OAB/MA 27106 e Mestre pela UFRN em Gestão, Trabalho, Educação e Saúde), Publicado no Jornal O Liberal.