Saúde – Câncer terá aumento significativo de casos e mortes entre homens até 2050

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De acordo com um novo estudo publicado na revista científica Cancer, até o ano de 2050, novos casos de 28 tipos de câncer e a mortalidade pela doença terão um aumento expressivo entre os homens.

A projeção mostra que no período de 28 anos, os casos em homens irão de 10,3 milhões para 19 milhões ao ano, um aumento de 84%. Já as mortes, irão de 5,4 milhões para 10,5 milhões anualmente, o que representa um crescimento de 93%.

Esta conjuntura se mostrou ainda mais expressiva nos países subdesenvolvidos e para indivíduos acima dos 65 anos.

“Entre 2022 e 2050, os casos de câncer e a mortalidade são projetados para mais que dobrar em países/territórios com IDH baixo e também entre os adultos mais velhos (na faixa etária acima dos 65 anos)”, escreveram os autores.

Em termos de desenvolvimento populacional, de acordo com estimativas das Nações Unidas, a população mundial vai sair do atual patamar de 7,95 bilhões para 8,6 bilhões em 2050, ou seja, um crescimento de 8,18%.

Para o estudo, foram analisadas informações de 2022 do Observatório Global do Câncer, o qual realizou estimativas a nível nacional para casos de câncer e mortes em 185 países. A partir disso, a equipe multiplicou as taxas específicas por idade de 2022 com suas projeções populacionais correspondentes para o ano de 2050.

“Uma colaboração nacional e internacional, bem como uma abordagem multissetorial coordenada, são essenciais para melhorar os resultados atuais do câncer e reverter o aumento previsto na carga do câncer até 2050. A ênfase deve ser colocada em países com baixo e médio índice de desenvolvimento humano, com altas necessidades não atendidas de serviços de tratamento de câncer, apesar de uma carga significativa de câncer”, disse o autor principal Habtamu Mellie Bizuayehu, da Universidade de Queensland, na Austrália, em comunicado.

Os 28 tipos de câncer levados em consideração pela projeção foram:

  1. Próstata
  2. Testículo
  3. Pênis
  4. Rim
  5. Bexiga
  6. Cérebro, sistema nervoso central
  7. Tireoide
  8. Linfoma de Hodgkin
  9. Linfoma não-Hodgkin
  10. Mieloma múltiplo
  11. Leucemia
  12. Lábio, cavidade oral
  13. Glândulas salivares
  14. Orofaringe
  15. Nasofaringe
  16. Hipofaringe
  17. Esôfago
  18. Estômago
  19. Colorretal
  20. Fígado
  21. Vesícula biliar
  22. Pâncreas
  23. Laringe
  24. Pulmão
  25. Melanoma de pele
  26. Câncer de pele não melanoma
  27. Mesotelioma
  28. Sarcoma de Kaposi

Os motivos por trás da projeção

De acordo com os pesquisadores, as principais causas para a disparidade entre os gêneros se devem a uma menor participação em atividades de prevenção do câncer, subutilização de opções de triagem e tratamento, maior exposição a fatores de risco de câncer — como tabagismo, consumo de álcool e exposição ocupacional a agentes cancerígenos — e diferenças biológicas.

Carlos Gil Ferreira, diretor médico da Oncoclínicas e presidente do Instituto Oncoclínicas, destaca que no contexto brasileiro os programas estão mais estruturados para prevenir ou fazer o diagnóstico precoce de tumores femininos, como o câncer de mama.

— Não existem programas para diagnósticos de tumores sabidamente masculinos, como o de próstata. O sistema de saúde brasileiro está mais preparado para detectar e cuidar de tumores em mulheres do que em homens — aponta o especialista.

— As mulheres são muito mais aderentes aos programas existentes de rastreamento e prevenção, no geral. Isso se combina a grandes fatores para o surgimento da doença, como tabagismo e alcoolismo são mais comuns entre os homens. É um problema multifatorial — evidencia Ferreira.

Os exames de colher PSA, toque retal ou colonoscopia, essenciais para o rastreamento de novos casos, ainda são vistos de forma negativa por muitos homens. Muitos dizem se sentir desconfortáveis ao serem examinados por um profissional do mesmo sexo.

Paulo, por sua vez, acredita que as novas gerações já não pensam dessa maneira quando se trata da própria saúde. Ele cita que conversar sobre os cuidados necessários com o filho, especialmente após o diagnóstico, é natural.

— Hoje em dia, mesmo fora de casa, a gente tem uma conscientização maior. Mas eu falo para o meu filho de 31 anos e também para os meus sobrinhos se cuidarem. Sempre tento passar esse ensinamento para eles. Não adianta reclamar, os homens precisam ir ao médico. Toda vez que eu tenho a oportunidade de conversar com alguém, eu tento conscientizar — ressalta.

Esta educação desde a infância sobre o assunto, ainda que não atinja os adultos da atualidade, pode promover mudanças significativas a longo prazo.

— Alguns locais do mundo conseguiram melhorar suas estimativas de câncer com base na prevenção educativa — pontua o médico.

Para além da conscientização a nível pessoal, poucos países no mundo apresentam uma estratégia sólida de prevenção de câncer e o Brasil ainda enfrenta este gargalo, segundo Ferreira. Contudo, o especialista acredita que o país vive atualmente um cenário favorável a novas medidas que podem causar impactos positivos nas próximas décadas.